Apesar de estar um pouco no alto e ter diversas árvores cobrindo os arredores, a luz do sol bate muito bem pela grande janela que um dos lados dessa casa possui, iluminando cada pedaço da madeira escura que a compõe. Um ótimo jeito de começar o dia, honestamente.
Não demorei pra que me concentrasse pra absorver o sonho que tive hoje: Lembro-me de ter atravessado algumas árvores já começando a sentir uma mudança no terreno; já não estava tão seco e poucos passos depois me deparei com um rio. A água parecia bastante clara, mas em um tom... roxo?
Comecei a seguir o fluxo do rio floresta adentro e, no que pareciam horas e horas dentro de um sonho, finalmente vi uma grande árvore, como se cortasse o rio em dois. As folhas densas, escuras, as flores arredondadas como magnólias, mas em um tom roxo como nunca vi antes! O mais estranho? No tronco dessa árvore havia um cadeado. Grande, rústico, em um formato curioso, como se fora entalhado na própria casca, mas só lembro que estava lá, preso nesse tronco. Quando fui tocá-lo, acordei como num susto. Imagino o que signifique.
Tentando buscar um guia ou resposta, fui até o pequeno altar que arrumei em uma das prateleiras (nada elaborado, apenas algumas gemas brilhantes, um bom punhado de areia em um vasilhame retangular e velas de tamanhos e cores diferentes. Acendi uma de patchouli!), delicadamente coloquei meu dedo dentro do punhado de areia e fechei os olhos, me conectando com os espíritos-guia daquela floresta, pro meu dia.
Talvez ainda precise me acostuma com eles. Afinal, é uma casa diferente, com uma floresta diferente e quem sabe conexões diferentes? Tudo que senti, enquanto meu dedo passeava pela areia, formando alguns pequenos símbolos e caminhos, foi como se alguém lentamente me empurrasse estrada a frente sem fazer perguntas ou responder às minhas! Acho que preciso de mais paciência.
Me arrumei, comi algo e saí para minha primeira jornada do dia!
Ao contrário do meu sonho, onde todos os lados da floresta eram iguais, na realidade é bastante diferente! Em um segundo você está em um ambiente todo fechado, denso, dois passos ao norte e você se encontra quase que em um deserto! É relativamente fácil se perder pela região, mas já tenho mais que costume de voltar pro meu canto seguro (às vezes com uma ajudinha mágica aqui e ali, claro).
Mas, pra minha contradição, a primeira caminhada foi bem focada na mesma floresta que encontrei a cabana; novamente nada tão denso quanto a floresta do sonho, mas ainda assim ficou até um pouco chato de tanta árvore pra lá e pra cá!
Claro que esse tédio acabou assim que, contornando o grande tronco de uma das ditas árvores, me encontrei a poucos metros de uma criatura que nunca vi antes! Era pequena, provavelmente com alguns centímetros, mas impossível não notar que era um lagarto em um tom de marrom quente se esgueirando, determinado para pegar um inseto sobre uma pedra, mas com uma peculiaridade: dois pares a mais de patas! Oito patas para um bicho daquele tamanho?? E, como se já não bastasse, cada pisada distorcia levemente o solo ao redor do próprio corpo, sem dúvida alguma uma influência elemental da terra. Sorte a minha que não era uma criatura muito grande, senão eu poderia estar em perigo!
Passei uns ótimos minutos? Horas? Passei um baita tempo observando o pequeno réptil se movento da forma mais suave possível com suas oito pernas, ao mesmo tempo que criava micro-terremotos que no máximo tirava algumas flores e grama do lugar. Gastava um bom tempo sobre folhas e pedras ou caçava um inseto que desse bobeira por ali, fosse sorrateiro até a presa ou tirando-a o equilíbrio com pisadas mais fortes e atacando! Como eu (felizmente) era bem maior nem parecia ligar muito para minha presença, mas resolvi melhor ficar na minha, ter paciência com a criatura e não estressá-la. Fiz alguns rascunhos e vou deixar um deles aqui. Decidi chamar o pequeno de Maanyaristis, ou "O que chacoalha a terra" em um idioma mais antigo. Soa bem, eu acho!
E pra não dizer que saí desse encontro de mãos vazias, quando estava para seguir em frente no dia encontrei, atrás de uma árvore próxima de onde o Maanyaristis estava, uma grande folha do que acho que seria uma figueira com alguns objetos cuidadosamente posicionados: um bule de chá bem ornamentado porém trincado, uma pedra de âmbar polida em um formato parecido com um de peixe e um pequeno pote de madeira com uma camada de uma graxa esverdeada! Uma oferenda? Um sinal? Eu podia jurar que andei perto daquele ponto algumas vezes observando a criatura e aquilo não estava ali antes! Mas, como me ensinaram, florestas têm seus jeitos de retribuir e presentear, então eu acho que estou em débito agora.
Os objetos podiam até parecer não muito úteis na hora, mas tenho certeza que vou encontrar uma boa função pra eles! Fechei-os na própria planta e os levei comigo.
Eu até poderia ter ido mais adiante hoje, mas com o cuidado que eu precisaria ter pra carregar meus novos presentes, resolvi voltar um tanto mais cedo para a cabana. Não demorou muito para que eu avistasse as árvores com troncos mais grossos e com detalhes mais familiares para mim, que me levariam ao meu retorno.
Acendi algumas luminárias para já preparar para o cair da noite, assim como a lareira para preparar o ensopado do dia e puxei a cadeira de frente à minha mesa de trabalho em um dos cantos do lugar, deixando aqueles três objetos mais ao fundo. Estalei os dedos e me concentrei especialmente no pequeno pote com aquela graxa verde estranha. Pastosa, com um cheiro forte de grama molhada, mas quase quente ao toque! Talvez fosse para alguma proteção no inverno?
Peguei um pouco dela, alguns pedaços daquela folha grande, coloquei em um pilão de ágata com uma almofariz bem esculpida e detalhada no mesmo material, juntei com um pouco de seiva e macerei aquela mistura até formar uma pasta uniforme, em um verde bem forte e um cheiro ainda mais verde, se é que isso faz sentido! Fechei os olhos, peguei um punhado de areia de um vasilhame maior e desenhei um símbolo na mesa ao redor do pilão, enquanto entoava algumas palavras que me comunicavam com meus espíritos.
Não pude esconder um sorriso quando senti um calor vindo daquela mistura, mas que logo se transformou em confusão ao começar a perceber esse calor esfriando mais e mais, ultrapassando a temperatura ambiente. Abri os olhos, notei que um leve vapor frio saindo do pilão! Não era pra mistura me proteger do frio? Não sei bem se errei algo ou se a mistura criou um efeito reverso, mas com o maior esforço consegui transferir aquela pasta verde gelada para um outro dos diversos potes que levo comigo. Bom, não vou reclamar!
A noite depois foi tranquila. Algumas leituras, uma preparação da janta e esse relato. O dia brincou com minha paciência, mas era o esperado! Vamos ver o que me aguarda amanhã.
Função: Diminui a temperatura do que encostar
Tipo: Pomada (espero que não liofilize!)
Classificação: Pode ser perigosa se em contato com a pele
Raridade: Alta (até eu descobrir ao certo o que é a graxa de origem)